Os budistas dizem que quando olhamos para um objeto, ele “nos olha de volta”. É que carregamos ferramentas pessoais – nossa história, sensibilidade, repertório – que filtram nosso olhar e definem a percepção que teremos do objeto, daí a ideia de que ele nos olha de volta. Levando essa ideia ao limite, olhar para um objeto é olhar a si mesmo. Nenhum homem atravessa o mesmo rio duas vezes, diz o filósofo Heráclito. De fato: a experiência da primeira travessia transforma o homem, assim como o curso constante do rio o transforma a cada segundo. Pois acredito que essa mesma afirmação se aplique às cidades: nenhum homem atravessa a mesma rua duas vezes. Ou, na concepção budista, olhar para a rua é olhar a si mesmo. É o que mostram os mapas abaixo, desenhados por algumas pessoas para representar seus deslocamentos diários.

Essa pessoa saiu de casa, viu a saída da escola cheia de crianças, notou a floricultura, a padaria. Quando entrou no taxi, deixou de perceber a cidade ao redor.

Esse percurso feito de carro deixa da cidade a percepção de uma linha quase reta a ser percorrida pare chegar ao destino. Quase nenhum elemento além da rua é notado.

Este aqui se perdeu. Seu desenho nos mostra como andar de carro consolida em nossa mente a estrutura das principais avenidas da cidade mas, dentro dos bairros, especialmente os tortuosos, torna mais difícil a circulação e localização.

Eu adoro o fato de esse mapa ter sido feito por uma dançarina. Ela precisou se equilibrar sobre o meio-fio de uma calçada lotada de gente para chegar até o metrô Sumaré. Percorreu os trilhos em alta velocidade até a estação consolação. Daí fez a baldeação para a linha amarela, onde notava alguns detalhes no meio da multidão de gente. Após mais um trecho de metro, saiu da plataforma e viu as pessoas que estavam espremidas no metrô se dispersarem e caminhou até seu destino.

Mais um mapa sensorial – e multimodal. Essa pessoa pedalou até a estação Vila Madalena, dobrou sua bicicleta e tomou o metrô até as Clínicas. Daí encontrou um amigo e pegou uma carona de carro (com a bike no porta-malas) até o destino. As cores dos percursos mostram as sensações de cada trecho.

O mapa mais estruturado foi desenhando por uma pessoa que se locomoveu a pé. Quem anda conhece mais caminhos e acaba aprendendo a fazer melhores escolhas para uma experiência de deslocamento mais agradável.
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