Conciliação entre o lago e a metrópole
As soluções urbanísticas que deram a Jaime Lerner projeção mundial foram implantadas, sobretudo, em Curitiba. Mas Porto Alegre também tem sido palco das concepções do arquiteto. Depois do Cais Mauá, no qual atuou em parceria com o escritório b720 Fermín Vázquez Arquitetos (leia PROJETO DESIGN 372, fevereiro de 2011), Lerner e equipe desenvolvem o projeto de requalificação de outro segmento da orla do Guaíba, lago que margeia boa parte da capital gaúcha.
Para Lerner, apesar de ser área nobre, a margem do lago não tem sido aproveitada em todo o seu potencial. A criação do Parque da Orla do Guaíba, nome dado à intervenção, “vai tornar ainda mais atraente, a partir de diversos patamares, a vista de um dos pores de sol mais bonitos do país” – sem prejudicar a visão da paisagem que encanta porto‑alegrenses e turistas, complementa o arquiteto.
Em janeiro, o secretário municipal de Desenvolvimento e Assuntos Especiais, Edemar Tutikian, acreditava que até o próximo mês seria lançada a licitação para a primeira parte da intervenção, que vai das imediações da Usina do Gasômetro até a rótula das Cuias, onde a avenida Edvaldo Pereira Paiva se encontra com a Aureliano de Figueiredo Pinto.
Nesse trecho, o parque terá a extensão de 1,5 quilômetro, e o projeto executivo para essa área já está concluído, informa Taco Roorda, da equipe de Lerner. Numa segunda etapa, o traçado deverá se estender até o arroio Cavalhada, próximo do Barra Shopping, no Cristal, bairro da zona sul de Porto Alegre, totalizando mais de sete quilômetros.
O escritório dividiu as intervenções em dois pontos: as imediações da Usina do Gasômetro e a ocupação da faixa linear de terra onde será implantado o parque, situada entre a orla e o dique construído na década de 1940 para conter as cheias (sobre essa faixa foi implantada a avenida Edvaldo Pereira da Silva).
Para o entorno da usina está prevista a implantação de um terminal turístico de barcos, com área para embarque e desembarque de passageiros, e a construção de um deque de madeira sobre pilares de concreto e as respectivas áreas de apoio (bilheteria, sanitários e área de espera).
A praça Júlio Mesquita, hoje separada da praça do Gasômetro pela avenida Presidente João Goulart, será incorporada ao projeto e fará a transição entre o centro histórico de Porto Alegre e a orla.
Serão aumentados o trecho gramado e a arborização da praça do Gasômetro, onde haverá uma baia para o desembarque de passageiros de ônibus turísticos e táxis.
No percurso linear, o projeto estabeleceu três alturas de intervenção. Entre a orla e a cota 2, a primeira faixa é voltada predominantemente à preservação da vegetação ciliar, com acesso e circulação definidos para evitar uso indiscriminado.
A segunda, um patamar no nível 2 (onde a cota não for inferior deverá ser feito aterro para atingi-la), será ocupada por gramado que servirá como espaço de encontro, contemplação e lazer. Entre ambas se executará um passeio.
A terceira faixa é composta pela estrutura do dique existente (tanto a encosta como o topo) e nela ficará a maior parte dos elementos a serem construídos.
Na parte superior do dique, a pista de caminhadas e uma ciclovia estarão separadas da avenida por um canteiro de um metro de largura, com espécies vegetais agregadas às existentes e vegetação arbustiva e de forração ordenando a circulação.
Escadas e rampas levarão da cota mais alta do dique aos patamares inferiores. Bares, quiosques, sanitários, depósitos e módulos de segurança serão implantados na transição para a faixa elevada, cujos pisos, na cota 2,5, deverão estar protegidos das cheias.
A intenção do projeto, explica Lerner, é incorporar o Guaíba ao dia a dia da população. A tarefa será, certamente, menos difícil que outra pretensão do arquiteto: “É uma intervenção para agradar gremistas e colorados”, brinca.
Texto de Adilson Melendez
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 396 Fevereiro de 2013
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 396 Fevereiro de 2013
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